sexta-feira, 16 de maio de 2014

2. Eduarda Mascarenhas d'Orey

Figura  incontornável da pós-modernização portuguesa. Lisboeta de pouso, nascida no Ribatejo ( Santarém, 1961) e  em berço fidalgo, cedo arregaçou as mangas. Foi para Londres estudar arte de rua e de instalação  com apenas dezoito anos.  Ungida desde cedo com preocupaçãoes sociais, recusou candidatar-se a bolsa ou sequer receber ordenado. Numa entrevista à revista K, feita por Rui Zink ( 1991),  explicou: Com tantos desempregados e imigrantes, não creio ter o direito de roubar o pão a quem dele precisa" ( as citações em itálico serão doravante extraídas  desta entrevista).
  A família, no negócio  do tomate e dos toiros de cobrição, enviava-lhe um envelope mensal apenas suficiente para a vida no pequeno apartamento  de Chelsea.

Abriu o seu primeiro ateliê na Madragoa, em 1985, inspirado nos trabalhos de Melo e Castro e na Triece de Neve  de Gonzalo Armero. Eduarda não escrevia poesia, mas acreditava na superação metavisual do objecto literário. Teve como colaboradora Rita Snowthorpe,  que conheceu  em Inglaterra, prima em segundo grau de  Miguel Esteves Cardoso, outra figura incontornável desses tempos de inovação.  São anos de apaixonada experimentação, espiritual e sexual. Eduarda  explica aos amigos que é urgente regressar  à liberdade dos bonobos, que resolvem os conflitos através  da actividade sexual livre de tabus. O ateliê de Eduarda ,  Passo/Compasso, teve honras de reportagem no jornal Independente, em 1992, ano em que infelizmente o projecto morreu. Eduarda  sentia-se esgotada com aqueles seis anos de intensa divulgação das fronteiras porosas entre países da arte e da expressão.

Seguem-se anos de busca  e encontro pessoal na área da metanóia, acabando por casar, em Sintra, em 1993,  com Miguel Galvão y Hérvias, gestor de hotelaria  de luxo, com o qual  tem dois filhos. Divorcia-se em 1999 e inscreve-se no CDS-PP, para esquecer a perda da custódia das crianças ( o tribunal considerou Eduarda emocionalmente incapaz de prover as necessidades básicas dos filhos).
Conhece Paulo Portas e dedica-se ao estudo do pensamento conservador de Burke, apaixonando-se pelos trabalhos de Gertrude Himmelfarb e  Oakeshott. Nessa altura regressa a Santarém  e ajuda  a família na  condução das propriedades agrícolas. Inicia então uma nova fase de produção artística refundando o traje tradicional do campino e a interpretação do fandango. Recupera as notas que Richard Twiss escreveu sobre a dança tradicional ribatejana e publica em 2002  "Levantando a Lezíria: subsídios para o resgate da tradição e do orgulho nacional".

No final do primeiro decénio do século XXI, a política entra definitivamente na vida de Eduarda. Volta  a casar, desta vez com Jacinto Leite Capelo  Rego, eurodeputado eleito pelo CDS-PP, e entre  Estrasburgo  e Bruxelas  envolve-se com várias organizações europeias de defesa da família cristã.
Morre, em 2010, num trágico acidente numa tenta de vacas bravas.

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